sábado, 3 de março de 2018

Concursos das Câmaras


Sempre que uma qualquer Câmara abre concurso para admissão de pessoal é inevitável que surjam, ou se insinuem, suspeições. Algumas vezes com razão, outras vezes sem, mas a ideia que está criada é que os concursos não são “limpos”. É vulgar falar-se de “jobs for the boys”, é comum dizer-se que os lugares estão (pré)destinados.


Defendi e defendo que os critérios devem ser objetivos, ao invés de se atribuir um peso importante na ponderação dos concursos aos chamados critérios subjetivos.

Um critério objetivo é impossível de “aldrabar”. Um doutorado está à frente de um mestrado, um mestrado está à frente de um licenciado, um licenciado está à frente do ensino secundário, e por aí em diante. Não há como haver engano. Em caso de grau igual, a nota de final de curso é, também ela, fator objetivo e de desempate. A experiência profissional (anos de trabalho, funções desempenhadas) é também um critério objetivo.

O exame escrito devia ser também um critério objetivo, mas, do meu ponto de vista, não é. Seria subjetivo se fosse tal e qual como os exames nacionais, se os testes viessem selados e não fossem do conhecimento de ninguém. Da maneira como as coisas são feitas, é possível que alguém mal-intencionado possa dar conhecimento prévio da prova ao candidato “favorito”. Atenção que disse “pode”! Não disse que acontece, apenas que pode acontecer.

Como principal critério subjetivo temos a entrevista. O candidato apresenta-se perante o júri, para uma entrevista que será classificada consoante os critérios de quem faz a entrevista. É precisamente aqui que, muitas das vezes, entra o favor, o compadrio, o famoso “fator C”.

Imaginem que se quer o candidato A, mas que o candidato B tem melhores qualificações académicas, melhor curriculum, melhores condições. Que fazer? É simples. Ao candidato A, o júri atribuirá a nota mínima e ao candidato B a nota máxima e no fim, ponderados todos os factores, o candidato B passa à frente do candidato A. Missão cumprida!

Há também algo que perverte, e de que maneira, um concurso de admissão de pessoal. O processo normal seria a Câmara fazer um levantamento das reais necessidades do município e depois abrir concursos para essas áreas, mas o normal é, infelizmente e muitas vezes, a exceção. O que se faz então? Se queremos colocar o candidato A vamos saber que habilitações tem e depois fazemos crer que a Câmara está necessitada de alguém com essas mesmas habilitações. Chama-se a isto, na gíria, fato à medida. É por isso que vemos Câmaras, de repente, a necessitarem de um Engenheiro Aerospacial, de um astrónomo ou de um licenciado em genética, por exemplo. Na verdade, não fazem falta nenhuma, mas acontece que é essa a formação que possui a pessoa que queremos colocar no lugar.

Escrevo isto antes de saírem os resultados dos concursos da Câmara de Elvas. Espero sinceramente que seja um processo limpo e transparente. Não acredito quando me dizem que há lugares cativos para, por exemplo, filhos de vereadores atuais ou antigos do PS. Não acredito quando me dizem que o lugar A está prometido à pessoa B. Não acredito, não quero e nem posso acreditar numa coisa dessas, seria mau demais para ser verdade.

Tão pouco acredito que aqueles que fizeram campanha pela força vencedora tenham prioridade, ou que os elementos, por exemplo, da Juventude Socialista valham mais que os outros apenas e só pelo simples facto de serem militantes. Não acredito mesmo!

Também não acredito em Bruxas…pero que las hay…las hay.

Aguardemos serenamente pelo desenrolar dos concursos e depois retomaremos o tema.

Todos aqueles que se sentirem prejudicados num qualquer concurso podem contar com a minha colaboração na reclamação. A haver “marosca” ela deverá ser do conhecimento de todos e, com a reclamação, terão direito às notas dos outros concorrentes.




3 comentários:

  1. Olá Tiago, boa noite! Acabei de ler o seu post sobre os concursos da câmara, não podia concordar mais. Também concorri, por descargo de consciência e sem qualquer esperança! Infelizmente, até tenho "medo" de fazer um comentário público, daí esta mensagem (desculpe). Quando a filha de um funcionário que estava a fiscalizar, também estava a fazer a prova escrita... É, no mínimo, pouco ético!

    ResponderEliminar
  2. Quando uns são informados que a prova escrita é com consulta e outros não. Quando isso não vem explícito em diário da República pois lá só diz que a prova é sobre aqueles dois artigos e não que se pode levar os mesmos artigos no dia da prova para consultar

    ResponderEliminar
  3. Até os ideais sindicalistas deixam de ser ideais

    ResponderEliminar